segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cineastas da favela criticam Cidade de Deus e Tropa

Os diretores dos cinco episódios do filme 5x Favela, Agora por Nós Mesmos criticaram, em debate durante o festival de cinema de Paulínia, produções que tratam de favelas, como Cidade de Deus e Tropa de Elite.

Comandado por Cacá Diegues, 5x Favela, Agora por Nós Mesmos custou R$ 4 milhões e traz cinco curtas-metragens escritos, dirigidos e interpretados por moradores de comunidades carentes do Rio de Janeiro. Retoma uma ideia original de 1962, em que cinco cineastas de classe média do Rio, entre eles Diegues, mostraram a vida dos moradores de favelas no clássico Cinco Vezes Favela.

Os diretores dos curtas disseram que não se vêem representados nos filmes de Fernando Meirelles e José Padilha. Por isso, produziram episódios em que moradores de comunidades cariocas são apresentados em uma perspectiva positiva.

"Cidade de Deus é um filme que o cara de fora [da favela] viu os traficantes e fez um filme sobre isso. Tropa de Elite foi um cara de fora [da favela] que viu a polícia e fez um filme sobre isso. Agora [5x Favela, Agora por Nós Mesmos] é um filme com a nossa visão", disse Luciano Vidigal, de 32 anos, cineasta morador do morro do Vidigal, diretor do episódio Concerto para Violino, o mais violento, trágico e pretensioso do filme, em que policiais e traficantes se unem para recuperar armas roubadas por bandidos.

Mais jovem dos diretores de 5x Favela, a estudante Manaíra Carneiro, 22 anos, diferencia o longa de Cidade de Deus e de Tropa de Elite. "A temática de 5x Favela não é a favela. É um filme que se passa na favela, mas acima de tudo um filme sobre solidariedade, esperança e ética, sobre pessoas que vivem em situações limite. Cidade de Deus é um filme de época, maniqueísta", afirmou.

Manaíra é codiretora de Fonte de Renda, o primeiro episódio, sobre um rapaz da favela que se vê forçado a vender drogas para os "playboys" da faculdade de direito em que estuda, para poder comprar livros. O jovem reluta muito em entrar para o crime e sai dele assim que consegue um emprego. E tem um final feliz, não é punido por se envolver com o tráfico, como provavelmente ocorreria se a história tivesse saído da cabeça de alguém de fora da favela.

O final feliz, à exceção de Concerto para Violino, marca todos os episódios. Segundo os diretores, isso foi proposital. Os cinco curtas foram escolhidos entre dezenas de argumentos desenvolvidos pelos jovens das comunidades em oficinas preparatórias para o filme.

"No processo de escolha dos argumentos, foi nítida essa necessidade de fazer um retrato positivo da favela", contou Cacau Amaral, 37, morador de Duque de Caxias, na periferia do Grande Rio, um dos diretores do programa Espelho, de Lázaro Ramos, no Canal Brasil.

Amaral, assina, em parceria com Rodrigo Felha, o episódio Arroz com Feijão, um dos mais divertidos, apesar da situação trágica. No curta, dois meninos lavam carro e catam cocô de cavalo para conseguir dinheiro e comprar uma galinha para que a mãe de um deles sirva um jantar digno para o pai, no dia do aniversário dele. Em uma das cenas mais "ideológicas" de todo o filme, os dois garotos são roubados por alunos do colégio mais elitista do Rio de Janeiro.

"Essa ideia da positividade foi de todo mundo. Tem desgraça na favela, mas decidimos mostrar a desgraça com humor. Pobre ri pra caramba, não só chora", disse Manaíra.

5x Favela, Agora por Nós Mesmos estreia nos cinemas de São Paulo e Rio em 27 de agosto.

Fonte: http://www.vermelho.org.br

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